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terça-feira, 1 de junho de 2010

O grande dilema de uma candidatura

São muitos os dilemas a serem enfrentados por José Serra nesta campanha eleitoral. O primeiro deles é que, na pratica, esta é sua última oportunidade de chegar a presidência. Ele poderia ter concorrido a uma reeleição muito provável ao governo de São Paulo, mas nesse caso não teria mais chance de candidatar-se a presidente.

Serra foi para a disputa da presidência sob fogo cerrado no campo demo-tucano. Não eram poucos os que achavam que o melhor candidato era Aécio, que fustigou-o até quando pode, retirando-se a tempo de não ter que assumir compromisso de ser o vice. Se tivesse disputado as prévias com Serra, Aécio não teria como fugir da vice.

Além disso, Serra saiu do governo de São Paulo deixando para um adversário interno, Geraldo Alckmin, a tarefa de disputar sua sucessão. É verdade que, ainda no governo, Serra teve o cuidado de pacificar suas relações com Alckmin, chamando-o para secretário e evitando disputar a indicação para a candidatura a governador.

Mas o maior dilema de Serra é como formular um discurso que lhe permita continuar competitivo na disputa. Se há seis meses ele podia esperar moleza, disputando contra um poste, hoje Dilma o observa pelo retrovisor. Escorada na popularidade do governo e, principalmente do presidente Lula, Dilma tem-se mostrado ainda aplicada e rápida em aprender como se mover na disputa eleitoral.

A nova situação diminui a margem de manobra de José Serra. Os marketeiros insistem para que ele não bata no governo e (Pelamordedeus!) muito menos em Lula. E ele tenta fazer um Serrinha paz e amor (antipático, como sempre), dizendo que vai manter o Bolsa-Família, que aliás "foi criado pelos tucanos", que vai continuar as obras de transposição do São Francisco, que alias, "foram pensadas na época em que ele era governo", que vai dar continuidade ao Luz para Todos, que, “foi idéia dos tucanos”

Serra evita falar no governo FHC e odeia quando FHC aparece dando palpites e exalando toda a sua popularidade negativa, toda a sua rejeição. Esse é outro dilema. FHC não se conforma com a falta de solidariedade dos caciques tucanos que lhe dizem a boca pequena que ele fez um ótimo governo, mas não dão um pio em público.

Em 2006, Alckmin foi emparedado por Lula, que bateu nas privatizações de FHC. Correu a vestir uma jaqueta com logotipos de várias estatais que eles não tiveram tempo para privatizar. FHC não o perdoa até hoje e acha que Serra devia levantar a bandeira do seu governo, ao qual serviu em dois ministérios.

E o discurso? Serra lê o que dizem as pesquisas, ouve o que dizem os marqueteiros e também racionaliza que não adianta bater em Lula, até porque o que os cidadãos querem é a continuidade do governo Lula.

Mas o uso do cachimbo deixa a boca torta. E Serra anda partindo para o ataque. Isso deixa entusiasmada a base demo-tucano que passou mais de sete anos batendo duro no governo e em Lula e quer ver mais sangue. Mas o resultado dessa inflexão nas pesquisas, para desespero dos marqueteiros é um desastre. Serra estacionou nos 37%, 38%, enquanto Dilma já bate nos 40%. E tudo indica que a candidata de Lula vai crescer mais ainda, ameaçando ganhar no primeiro turno.

E Serra fica no dilema: se não bater, atendendo ao que recomendam seus marqueteiros, corre o risco de perder no primeiro turno, sem ao menos tentar derrubar Dilma. Pode ser vencido "sem luta". Se bater e isso for mal recebido pelo eleitorado, vai cair sua intenção de votos e pode facilitar a vitoria de Dilma.

Talvez seja por isso que resolveu bater na Bolívia. Tenta agradar a base demo-tucano e, principalmente, a mídia que o apóia descaradamente e aparentemente não entra em choque com o eleitorado de Lula e Dilma. O problema e que com esse discurso ele anda de lado. Isso não ira credenciá-lo junto a população como um candidato em condições de fazer melhor que Dilma no governo.

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