Páginas

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

A "justiça fora da lei" - Entrevista

ENTREVISTA QUE O DIARINHO PUBLICA NESTA SEGUDA-FEIRA, COMO PARTE DE UMA SÉRIE DE MATÉRIAS SOBRE A "JUSTIÇA" FORA DA LEI.
Aqui você lê a entrevista com Frei Beto e no www.diarinho.com.br você lê a matéria completa
 
“Ninguém nasce bandido”
Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, 70 anos, é escritor e religioso católico. Premiado nacional e internacionalmente por sua militância em favor dos direitos civis, Frei Betto abriu espaço em sua agenda, em Cuba, para participar desta reportagem

DIARINHO - Quando a imprensa denuncia alguma violação de direitos, vê-se, pelas redes sociais, que a maioria das manifestações é em favor de agressões ou segregações. Isso pode significar que é também o pensamento da maioria dos brasileiros?
Frei Betto - Em uma cultura dominada pelo capitalismo, cujo principal “valor” é a competitividade e não a solidariedade, não me espanto ao constatar que haja pessoas favoráveis a linchamentos e à redução da maioridade penal. O que nossas crianças veem na TV e na internet? Violência, violência e violência, na forma de filmes e desenhos, games e notícias. Porém, ninguém nasce racista ou homofóbico. Tudo resulta da educação que recebemos. Aí está o ponto central: uma educação centrada no respeito aos direitos humanos.

DIARINHO - O aumento ou evidência desta intolerância social poderia estar ocorrendo em virtude da sensação de impunidade, como resultado da inoperância da polícia/justiça?
Frei Betto - Sim, a polícia entra atirando em favelas, mas não age da mesma forma em bairros de classes média e rica. O judiciário é leniente (tolerante) com quem tem posição privilegiada na sociedade. E nossas prisões são escolas de aprimoramento de bandidos. Isso leva muitas pessoas a querer fazer “justiça” com as próprias mãos.

DIARINHO - Parece que a sociedade, diante da criminalidade, perdeu a paciência em esperar pela justiça, perdeu o medo da punição e tem partido mais para a vingança imediata contra criminosos. Por que esse desejo de fazer justiça com as próprias mãos?
Frei Betto - Porque não há uma cultura que contextualize a criminalidade. Por que UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) em favelas do Rio foram criadas sem a complementação de escolas de qualidade, praças de esportes e equipamentos culturais e artísticos, como teatro e dança? O Estado investe em prevenção e punição e não em educação. Ninguém nasce bandido. Este resulta de condições familiares e sociais inadequadas.

DIARINHO - Existe saída pra essa situação?
Frei Betto - Sim, a educação em tempo integral, gratuita e de qualidade, e meios de comunicação voltados a reforçar valores como solidariedade, partilha, altruísmo e espiritualidade.

Nenhum comentário: