Páginas

domingo, 23 de junho de 2013

A NOVA ÁGORA

Até bem pouco tempo a cidadania precisava da mediação dos partidos, dos sindicatos, dos movimentos sociais, enfim precisava ser representada para expressar o seu descontentamento ou para reivindicar. Hoje, graças às Tecnologias da Informação e da Comunicação nasceram as redes sociais e daí o poder de auto-organização e de rápida mobilização, sem par na História. Há uma nova Ágora, a nova praça pública é virtual. Há uma nova expressão da cidadania que se manifesta negandotanto o Mercado quanto o Estado. Há uma ansiedade por se expressar,por ocupar espaços sem ter que pagar, sem ter que consumir ou depender de permissãoe controle de autoridades.
A coisa toda pode começarcom motivação única - no caso presente é a redução da tarifa do transporte coletivo -, mas isso é apenas uma cunha encravada no contexto sócio-político e econômico com o propósito de alargar o questionamentoà sociedade contemporânea. Os modelos institucionais estão sendo arrostados – a Família (ou os seus valores tradicionais), a Escola (ou seu método renitentemente mecanicista e cartesiano), as Religiões (ou o choque entre fé e ciência), o Mercado (ou sua lógica excludente) e o Estado (ou sua missão estruturante) em síntese, tudo é questionável ou está em cheque. A contestação é geral e generalizada, o establishment está na pauta.
Mas, por quê? Parece que ocorre uma exaustão do sistema, um desgaste das abordagens vigentes em todas as dimensões da vida humana associada, mas em especial na Política e na Economia. Nesta porque a sua instituição central, o Mercado, logrou invadir todos os espaços com sua lógica obliterante e excludente e, por conseguinte, tudo e todos podem ser comprados ou vendidos e com isso restou espaço nenhum para o convívio humano genuíno e restaurador. Na política,o embate raramente praticado em torno de ideias ou de propostas, pretendendo somente desqualificar o adversário, acabou por desconstruir a própria Política.
Para finalizar há uma constante na história da humanidade – a linguagem da tensão. Eric Voegelin a chamava de tensão existencial; Platão a entendia como uma “metaxi”. Estamos permanentemente na condição de “estar - no - meio”, de “estar - entre” dois polos, duas tendências. Entre a vida e a morte; perfeição e imperfeição; ordem e desordem, enfim, entre ideias divergentes, porém complementares. Se separarmos esses pares de símbolos, se desconsiderarmos os polos de tensão estaremos deformando nossas humanidades. Por isso se os movimentos populares que se espalham pelo Brasil implicarem uma nova ordem devem ser saudados.

Aroldo Bernhardt

Professor

Nenhum comentário: