Até bem pouco tempo a cidadania
precisava da mediação dos partidos, dos sindicatos, dos movimentos sociais,
enfim precisava ser representada para expressar o seu descontentamento ou para
reivindicar. Hoje, graças às Tecnologias da Informação e da Comunicação
nasceram as redes sociais e daí o poder de auto-organização e de rápida mobilização,
sem par na História. Há uma nova Ágora, a nova praça pública é virtual. Há uma
nova expressão da cidadania que se manifesta negandotanto o Mercado quanto o
Estado. Há uma ansiedade por se expressar,por ocupar espaços sem ter que pagar,
sem ter que consumir ou depender de permissãoe controle de autoridades.
A coisa toda pode começarcom motivação
única - no caso presente é a redução da tarifa do transporte coletivo -, mas
isso é apenas uma cunha encravada no contexto sócio-político e econômico com o
propósito de alargar o questionamentoà sociedade contemporânea. Os modelos
institucionais estão sendo arrostados – a Família (ou os seus valores
tradicionais), a Escola (ou seu método renitentemente mecanicista e cartesiano),
as Religiões (ou o choque entre fé e ciência), o Mercado (ou sua lógica
excludente) e o Estado (ou sua missão estruturante) em síntese, tudo é
questionável ou está em cheque. A contestação é geral e generalizada, o establishment está na pauta.
Mas, por quê? Parece que ocorre uma
exaustão do sistema, um desgaste das abordagens vigentes em todas as dimensões
da vida humana associada, mas em especial na Política e na Economia. Nesta
porque a sua instituição central, o Mercado, logrou invadir todos os espaços
com sua lógica obliterante e excludente e, por conseguinte, tudo e todos podem ser comprados ou vendidos e com isso restou espaço nenhum
para o convívio humano genuíno e restaurador. Na política,o embate raramente
praticado em torno de ideias ou de propostas, pretendendo somente desqualificar
o adversário, acabou por desconstruir a própria Política.
Para finalizar há uma constante na
história da humanidade – a linguagem da tensão. Eric Voegelin a chamava de
tensão existencial; Platão a entendia como uma “metaxi”. Estamos
permanentemente na condição de “estar - no - meio”, de “estar - entre” dois polos,
duas tendências. Entre a vida e a morte; perfeição e imperfeição; ordem e
desordem, enfim, entre ideias divergentes, porém complementares. Se separarmos
esses pares de símbolos, se desconsiderarmos os polos de tensão estaremos
deformando nossas humanidades. Por isso se os movimentos populares que se
espalham pelo Brasil implicarem uma nova ordem devem ser saudados.
Aroldo
Bernhardt
Professor
Nenhum comentário:
Postar um comentário