Uma
histórica luta que não pode ser esquecida.
O Vereador
Tonho da Grade (PP-Itajaí) levantou a polêmica sobre a gratuidade para
pedestres, ciclistas e motociclistas na passagem do rio Itajaí-açu, através da
travessia feita pela empresa de navegação Santa Catarina.
Não se pode
tratar esse assunto com interesses unicamente promocionais e pontuais. Reconheço a legitimidade do vereador em abordar o tema. Porém,, é preciso ter
responsabilidade ao abordar o tema, para não se perder as conquistas
históricas. Nós, navegantinos, mais do que ninguém sabemos que ainda não é o
ideal, mas um dia teremos um governo estadual que vai nos olhar com mais
atenção e vamos ampliar a gratuidade para todos.
Por isso,
segue um breve histórico, para que todos se inteirem do assunto e, então,
possamos fazer o debate.
1985 – Nos grupos
de jovens da Igreja católica já questionávamos a cobrança dos pedestres e
ciclistas, que não tinham alternativa para atravessar o rio: ou pagava ou não atravessava.
Surge um movimento na cidade sobre uma possível gratuidade. Há época, eu
coordenava a Pastoral da Juventude e os grupos de jovens na cidade que eram 16
ao todo.
1986 - depois de
muito reclamar e cobrar dos políticos, a população ganhou três meses de
gratuidade para pedestres por decreto do Governador Esperidião Amin. Era o
período eleitoral de 1986. O candidato do governador Amim era o itajaiense Amilcar
Gazaniga. Pelo decreto a empresa arcaria com o ônus da gratuidade. A empresa,
por sua vez, passou a limitar em 150 pessoas por viagem (antes da gratuidade,
eram 300 a 400 por viagem, com três viagens por hora apenas). O resultado: levávamos
mais de uma hora pra atravessar o rio. Passada a eleição de 15 de novembro, a
gratuidade foi suspensa.
1991 – Surge a primeira lei (8209 de 02 de janeiro de 1991) da gratuidade, de
autoria do deputado Cezar Souza. A lei estabeleceu gratuidade apenas para
usuários do Ferry Boat, excluindo os usuários da balsa. Publicada a lei, a
empresa derrubou com liminar na justiça os seus efeitos. Não aproveitamos nada
na ocasião.
1995 - O deputado Volnei Morastoni provocou na justiça o Ministério Público, e conseguimos derrubar a liminar de 1991. Por
uma semana, passamos de graça no Ferry Boat. A empresa contratou equipe de
segurança e ocorreram vários confrontos e até pessoas se feriram. Na sequência
a empresa conseguiu nova liminar suspendendo outra vez a gratuidade. Em
continuidade, o deputado Volnei Morastoni elaborou abaixo-assinado, tratativas
na justiça e ações políticas com o governador Paulo Afonso e depois Esperidião
Amin.
1998 – Enquanto ocorria o enfrentamento político e jurídico para aplicar a lei
de 1991, o deputado Volnei Morastoni arrancou um "acordo " com a
empresa que passou a não cobrar de pedestres e ciclistas no Ferry Boat em dois
horários de pico: manhã e final de tarde, pois eram horários de maior
incidência de trabalhadores. A travessia da balsa ficou de fora, pois não
constava da lei em litígio. Durou até que o então vereador de Itajaí Rubens
Menon manifestou-se e começou a fazer, através do rádio e da Câmara, movimento
para que fosse em período integral a gratuidade e contemplasse também os
usuários da balsa. Resultado: a empresa recuou do acordo e nos tirou os dois
horários já conquistados. A lei de 1991 continuava suspensa por liminar
1999 – O deputado consegue a sanção do Governador de uma nova lei aprovada em
1998 pela Assembleia Legislativa. A nova lei (Lei 11.077 de 11 de janeiro de
1999) garantia a gratuidade para pedestres e ciclistas do Ferry Boat e da
Balsa, agora incluída no benefício. A lei já existia, mas não tinha sido
implementada pelo Governo do Estado. Em audiência com o Governador Esperidião
Amin (eu participei) o deputado Volnei Morastoni, arrancou um acordo para a
implantação da Lei. O governo assumiria os custos da travessia de pedestres e
ciclistas, trabalhadores e estudantes que morassem nas cidades de Itajaí e
Navegantes. A lei foi regulamentada por decreto e ali se estabeleceram as
regras a serem cumpridas.
2000 – Em primeiro
de janeiro, passa a vigorar a lei: pedestres e ciclistas, que trabalhavam e estudavam,
moradores de Itajaí e Navegantes tinham acesso ao Passe Livre.
2002 – Em 07 de
janeiro de 2002, o governador Esperidião Amin sanciona nova lei (12.119), que
ampliou para motociclistas o direito ao passe livre. O autor desse acréscimo
foi o deputado João Macagnan.
2003 – O governo Luís
Henrique da Silveira tentou acabar com a gratuidade. Realizamos um movimento e
mantivemos o passe livre. Na época como vereador criamos o MOTIN (Movimento
pela travessia gratuita entre Itajaí e Navegantes). A participação do deputado e presidente da
Assembleia Legislativa Volnei Morastoni, foi decisiva para a manutenção do
benefício.
2007 - Nova
tentativa do governo Luís Henrique da Silveira (segundo mandato) em restringir
a gratuidade do passe livre. Uma Audiência Pública requerida pela Deputada Ana
Paula Lima e presidida por Jandir Belini (a época deputado), realizada em
Navegantes, reverteu o processo e mantivemos a gratuidade.
Perceba-se que são
muitos os atores de vários partidos, que participaram desse processo histórico.
Se olharmos a lei pelo que a letra diz, podemos interpretar que todos teriam
direito. Contudo, a empresa, se for obrigada a abrir a porteira para todos, sem
receber nada de volta, vai para justiça e acaba com tudo que conquistamos. Já o
governo vive tentando cortar esse benefício alegando falta de recursos.
É legitimo o
vereador de Itajaí fazer o seu trabalho, mas que primeiro conheça a história.
Hoje o passe livre,
pago com dinheiro público, tem uma regra: atende trabalhadores, estudantes que
passam a pé, de bicicleta e moto. Não podemos perder isso.
Uma travessia com
gratuidade para todos sem distinção é o nosso sonho. Entretanto, precisa ser
assumido pelo poder público. É preciso ser mais responsável em se abordar o
tema, pois do contrário podemos perder conquistas históricas.
Poderia ainda
elencar nesse histórico nossa luta pelas melhorias. Desde 2003 lutamos na
justiça por embarcações mais seguras, cobertas e com mais horários. Mas, isso
fica para um outro post.
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